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Incertezas e crise brasileira justificam parte da alta do dólar...

Para Giorgio Romano Schutte, professor da UFABC, atual conjuntura é 'complicadíssima', mas a médio prazo, com superação de problemas políticos, é possível olhar para a economia com otimismo

São Paulo – A disparada do dólar, que voltou a fechar em alta hoje (11), subindo 0,77% e chegando a R$ 3,13 na venda, não é consequência de problemas internos do Brasil, embora essa ideia seja disseminada sistematicamente. A crise política brasileira e as incertezas configuram apenas uma das componentes da valorização da moeda americana, que no final de 2014 estava em R$ 2,60.

O que pouco se divulga é que o dólar está se valorizando no mundo todo. Ontem, por exemplo, o euro chegou ao patamar mais baixo em 12 anos. A expectativa ou especulações sobre o posicionamento do Banco central norte-americano (Federal Reserve), que pode subir a taxa de juros, e políticas internas dos países europeus têm forte influência na crescente alta da moeda americana.

O professor Giorgio Romano Schutte, coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), vê “vários fatores” influenciando a conjuntura monetária brasileira. Ele não descarta, porém, que uma delas é a crise brasileira, e a depreciação do real em relação ao dólar se dá também em decorrência das “turbulências” e à imagem do Brasil, “muito afetada” no exterior. “A questão da Petrobras, o clima, as notícias que saem lá fora são alarmantes sobre crise política intensa, e isso faz com que haja uma desconfiança com relação ao real”, diz Schutte.

Mas ele considera correta a opção do Banco Central de não intervir no mercado para defender a moeda brasileira.

Questionado se está otimista ou pessimista diante do cenário atual, o professor diz, com bom humor, que o ideal seria “hibernar” como os ursos, e acordar depois da “tempestade”. Mas afirma também que, apesar da crise e das incertezas, há motivos para acreditar no potencial econômico fruto das políticas do governo. “Estão acontecendo coisas que apontam claramente para o potencial que existe para geração de emprego e renda neste país.” Uma delas diz respeito à Petrobras. A produção total de petróleo e gás natural no país chegou a mais de 3 milhões de barris de óleo equivalente (BOE) por dia.

Leia a entrevista concedida à RBA:

A que o sr. atribui a violenta alta do dólar? Pressão do mercado contra o real, recuperação da economia norte-americana?

São vários fatores. Tem uma valorização do dólar com relação a várias moedas. Em relação ao euro, ao iene, porque estão se criando as perspectivas nos Estados Unidos de se aumentarem os juros, enquanto os outros países estão diminuindo. O Banco Central Europeu desvaloriza os juros, então o diferencial aumenta e os investidores têm mais interesse em ir para o dólar.

Outra questão, especificamente com relação ao Brasil, diz respeito às turbulências e à imagem do Brasil, que foi muito afetada. A questão da Petrobras, enfim, o clima, as notícias que saem lá fora são alarmantes sobre crise política intensa, isso faz com que haja uma desconfiança com relação ao real. O Banco Central, de certa forma corretamente, não está torrando todas as reservas para defender o real neste momento.

Por que corretamente?

Primeiro, se você começa a fazer isso neste momento vai ter muita especulação apostando que o BC não vai conseguir (defender o real), você vai torrar muito dinheiro à toa, e isso cria muitos problemas. Vamos ter que conviver com isso, ver o que acontece. Tem várias causas. A principal questão é a economia internacional, que é a junção da questão econômica nos Estados Unidos e o que acontece nos outros países de regiões centrais, Japão e Europa, que estão apostando mais numa expansão monetária: com a perspectiva de aumento dos juros do banco central americano (Federal Reserve) o apetite vai para o dólar. E nesse contexto temos aqui a questão interna, política sobretudo, com algumas questões muito concretas como a Petrobras.

O sr. vê nessa componente política um aspecto forjado pelos mercados?

Pode ter um pequeno elemento, mas não é isso. Claro que a questão da imagem, a questão da percepção da situação no Brasil tem esse elemento, mas faz parte do conflito político neste momento. Há conflitos de fato muito sérios. O Brasil tem enormes dificuldades de avançar na política econômica. Partidos aliados se tornam oposição. Isso tudo são fatos, querendo ou não. O fato de que a médio prazo é uma economia com grandes perspectivas, isso é irrelevante nesse momento. O dólar age no imediato. Ainda não estamos diante de uma grande fuga de capitais. Eu também acho que não vai acontecer, exatamente porque a economia tem fundamentos sólidos. Não tem um movimento de apostar pesadamente contra o Brasil. Pode ser que aconteça, mas neste momento não vejo isso como fator determinante da situação do dólar.

Como o sr. avalia a alta do dólar quanto à balança comercial? Não favorece as contas brasileiras?

Aí tem que ter cuidado. É preciso de um tempo para o setor produtivo aproveitar essa nova janela de oportunidade. Para isso ele também precisa de juros mais acessíveis e financiamentos. Se o BNDES fecha a torneira e os juros estão altos, e você tem um processo de desconstrução das cadeias produtivas, você não consegue imediatamente reagir. Isso tem uma defasagem, demora um tempo. Pode ser positivo, mas o positivo vai aparecer mais para a frente. As condições para aproveitar essa janela são negativas hoje. O BNDES fecha as torneiras, os juros são altos. O clima não é de investimentos para aproveitar essa oportunidade, para você se preparar para exportar. E ao mesmo tempo os problemas aparecem no curto prazo: os produtos importados imediatamente se tornam mais caros, as dívidas em dólar se tornam imediatamente mais impagáveis. Isso pesa na Petrobras.

O quadro está muito complicado, então. Como acadêmico e professor, o sr. está otimista ou pessimista em relação ao cenário?

É, vamos dizer que é um período difícil. Estou otimista a médio prazo, desde que se consiga segurar problemas de curto prazo. Mas aí o problema é sobretudo político. Sabe os ursos, que ficam hibernando três meses? É mais ou menos isso. O momento é complicadíssimo. A presidente Dilma faz um discurso e não anuncia nada de concreto. Ela poderia ter dito que, "reconhecendo o esforço que os trabalhadores já estão fazendo, eu vou aprovar o ajuste da tabela do Imposto de Renda” (acordo entre líderes do Congresso e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estabeleceu correção escalonada na tabela do IR em cinco faixas, de 4,5% a 6,5%). Mas, aí, aparece no jornal quase como uma conquista do PMDB, não é capitalizado por ninguém, nem pela CUT, nem pelo PT, nem pela Dilma, e por aí vai.

Tempos melhores chegarão, aí vem meu lado otimista. Porque existem fundamentos.  Hoje, por exemplo, saiu uma notícia: São Paulo é a sétima cidade de preferência para organizar eventos internacionais.  Pode-se acreditar no país, mas a curto prazo a situação é de uma tempestade mesmo. Não dá para ver o sol, mas o sol virá.

É melhor então hibernar, como os ursos?

É mais ou menos isso. Apesar de toda a crise, há exemplos que mostram claramente (motivos para otimismo).  Em dezembro do ano passado, por exemplo, o Brasil chegou a 3 milhões de barris de óleo equivalente (BOE). Isso é um sucesso total. A exploração do pré-sal, que está dentro disso, que explica esse crescimento, está indo muito bem. Ninguém fez isso, extrair petróleo a 200 quilômetros da costa a 7 mil metros de profundidade. Isso tudo parece que não existe porque a gente está olhando o curto prazo. Mas estão acontecendo coisas que apontam claramente para o potencial que existe para geração de emprego e renda neste país.

Jampa Web Jornal com Eduardo Maretti, da RBA

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