Festa na crise? As cidades que cancelaram o carnaval pelo Brasil
Em um grande galpão de Cabo Frio (RJ), a poucos dias do carnaval, dezenas de fantasias e carros alegóricos estão encostados, acumulando poeira.
Neste ano, em meio à crise econômica e sob o impacto da queda do preço internacional do petróleo, a cidade é uma das muitas pelo Brasil que, diante de receitas em baixa, tiveram de economizar dinheiro e cancelar seus carnavais oficiais.
Rodrigo Moura, 19, é quem projetou as fantasias e carros alegóricos. Hoje seu ateliê está vazio. Os desenhos feitos para este ano não saíram do papel.Neste ano, em meio à crise econômica e sob o impacto da queda do preço internacional do petróleo, a cidade é uma das muitas pelo Brasil que, diante de receitas em baixa, tiveram de economizar dinheiro e cancelar seus carnavais oficiais.
"No ano passado, eu tinha 40 pessoas trabalhando para mim, sete delas só para fazer as fantasias", diz Moura à BBC. "No desfile, tínhamos 800 pessoas dançando para nós."
Com 208 mil habitantes, Cabo Frio diz ter um dos melhores e mais tradicionais carnavais do Estado do Rio. No ano passado, cada uma das 12 escolas de samba locais recebeu, em média, R$ 70 mil da prefeitura para organizar seus desfiles.
Neste ano, porém, a queda na arrecadação atingiu a cidade em cheio – a prefeitura vem até mesmo atrasando o pagamento do funcionalismo.
A cidade da costa fluminense enfrenta greve de professores, enfermeiros, garis e coveiros – muitos dos quais acamparam recentemente diante do gabinete do prefeito, exigindo pagamento.
"Uma receita que antes era de R$ 60 milhões por mês passou a ser de R$ 30 e poucos milhões", afirma à BBC o prefeito Alair Corrêa (PMDB). "Mas tudo aquilo que construímos a partir de uma receita de R$ 60 milhões não fechou."
A cidade fluminense, que desde os anos 1980 coleta royalties da exploração petrolífera realizada em seu território, é uma das que mais sofreram com a queda no preço internacional do petróleo – o barril, que há cerca de 2 anos e meio era cotado a US$ 110, hoje está na casa dos US$ 30.
Um dos servidores sofrendo o impacto disso é José Carlos dos Santos, que trabalha em uma escola de Cabo Frio e não recebe salário há dois meses. Diz que, como consequência, teve de fazer bico como vendedor de sorvete na praia, e mesmo assim está com contas em atraso.
"Só consigo fazer esse trabalho de forma temporária, no verão", lamenta. "No inverno não tem muito turista, e não sei se até lá conseguirei outro emprego."
Carnaval x ambulância
Pelo país, ao menos 40 cidades de pequeno e médio porte também tiveram de cancelar festividades carnavalescas, muitas delas por causa da queda na arrecadação derivada da crise econômica.
Em Porto Ferreira, interior de São Paulo, a Câmara local votou por usar o dinheiro destinado ao carnaval para comprar uma nova ambulância.
Na histórica Ouro Preto (MG), cenário de um tradicional carnaval de rua, o desfile oficial também foi cancelado. A festa de rua terá apenas 10% do orçamento que teve no ano passado.
Num momento em o FMI (Fundo Monetário Internacional) estima que a economia brasileira encolha 3,5% neste ano, o carnavalesco de Cabo Frio diz entender a nova prioridade nas despesas dos governos locais.
"Claro que a gente pensa nos servidores municipais que estão sem receber, muita coisa faltando na cidade. Mas também temos que pensar na gente. O que acontece com quem trabalha no carnaval, com quem vive do carnaval o ano todo?"
O prefeito Alair Corrêa reconhece que as perspectivas de curto prazo são ruins.
"Vai demorar talvez uns quatro anos para que voltemos a ter o carnaval que tínhamos antes – só quando superarmos a crise e pagarmos nossas contas", diz à BBC.
Jampa Web Jornal
BBC Brasil
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