HOLOCAUSTO: 110 anos de Oskar Schindler, grande humanitário da 2ª Guerra
Aliado ao Partido Nazista, industrial usou sua influência e fortuna para salvar as vidas de 1.200 judeus na Polônia
Neste sábado (28), Oskar Schindler completaria 110 anos. O industrial morávio salvou cerca de 1.200 judeus durante o Holocausto, empregando-os em suas fábricas de munição e esmaltados sob condições muito melhores do que aquelas a que estavam submetidos nos campos de trabalho e extermínio nazistas.
Retratado no épico filme de Steven Spielberg, baseado na obra de Thomas Keneally, A Lista de Schindler, o industrial foi personagem de muitos outros livros e biografias. Em 1963, recebeu o prêmio de Justos entre as Nações do Yad Vashem, o Memorial do Holocausto em Israel. A honra é oferecida a todos os não judeus que salvaram vidas judias durante a Segunda Guerra Mundial.
Apesar de ser muito admirado em todo o mundo, Schindler era uma figura muito contraditória. Segundo relatos, no início de sua vida era visto como um grande oportunista, que só visava o lucro. Sua esposa, Emilie, contou em seu livro Memórias – À sombra de Schindler, como o industrial gastou todo o dinheiro com mulheres, apostas e bebidas. Ela afirmava que “nem em sonhos” voltaria a se casar com Oskar.
Além disso, era membro formal do Partido Nazista e foi espião do Abwehr, o serviço de informações dos nazistas.
Apesar de nunca ter se mostrado ideologicamente contrário ao regime nazista, Schindler se horrorizava com a crescente brutalidade da perseguição sem sentido contra a população judaica. Segundo as biografias escritas sobre o empresário, o sentimento provocou uma transformação em sua personalidade oportunista e gananciosa e, ao longo dos anos, ele se mostrou disposto não só a gastar todo seu dinheiro, mas também a colocar sua própria vida em risco na luta para ajudar aquelas pessoas.
Vida e empreendimentos
Schindler nasceu em 28 de abril de 1908 na Morávia, região que hoje faz parte da República Checa. Sua família católica e de classe média pertencia à comunidade de falantes da língua alemã da região e, como a maioria dali, seguia o Partido Alemão dos Sudetas, que apoiou o nazismo e lutou pelo desmembramento da Checoslováquia e sua anexação à Alemanha.
Casou-se com Emilie em março de 1928, em uma pousada nos arredores de Zwittau, sua cidade natal.
Quando os Sudetas se juntaram à Alemanha de Hitler, Schindler tornou-se membro formal do Partido Nazista e, em 1936, espião do Abwehr, o serviço de informações dos nazistas na Checoslováquia. Mais tarde, ele disse à polícia checa que fez isso porque precisava do dinheiro.
Pouco depois da eclosão da guerra, em setembro de 1939, Schindler se mudou para a Cracóvia ocupada, na Polônia, onde assumiu uma fábrica de cerâmica esmaltada que anteriormente pertencia a um judeu. Com a ajuda de um contador, começou a construir sua própria fortuna.
No final de 1942, o empreendimento em Zablocie, nos arredores de Cracóvia, expandiu-se para uma enorme fábrica de esmaltados e munições, empregando quase 800 homens e mulheres. Destes, 370 eram judeus do gueto de Cracóvia, estabelecido após a invasão alemã na cidade.
Schindler logo adotou um estilo de vida extravagante, saindo à noite, confraternizando com oficiais de alto escalão e namorando belas mulheres polonesas. Ele parecia não ser diferente de outros empresários alemães da região. O que o diferenciava era a forma como tratava seus funcionários, especialmente os judeus.
Segundo o Yad Vashem, a vantagem do industrial estava justamente no seu status de empresário. Isso não só o qualificava para obter contratos militares lucrativos, como também permitia que recrutasse judeus sob o controle dos nazistas para trabalhar em sua fábrica. Schindler não hesitava em falsificar os registros, listando crianças, donas de casa e advogados como mecânicos especializados e metalúrgicos.
A Gestapo, polícia secreta dos nazistas, chegou a prendê-lo diversas vezes, sob acusações de irregularidade e favorecimento de judeus.
Mapas do projeto humanitário de Schindler
1) Gueto de Cracóvia
Foi um dos cinco guetos principais criados pela Alemanha Nazista durante sua ocupação da Polônia na Segunda Guerra Mundial. Grande parte dos judeus resgatados por Schindler viviam aí.
2) Campo de Plaszow
Muitos dos judeus que Oskar Schindler ajudou também passaram por Plaszow, campo de concentração construído pelos nazistas nos arredores de Cracóvia. Era comandado pelo cruel Amon Göth.
3) Fábrica Oskar Schindler
Nos arredores de Cracóvia, Schindler comprou uma fábrica de metais, onde produzia utensílios de cozinha, cerâmica esmaltada e munições. Em 1942, empregava quase 800 homens e mulheres. Destes, boa parte eram judeus do gueto de Cracóvia e do campo de concentração de Plaszow.
4) Fábrica/Campo em Brünnlitz
Após 1943, o gueto de Cracóvia e o campo de Plaszow tiveram de ser evacuados por conta do avanço russo. Ao receber ordem para deixar o local, Schindler conseguiu obter autorização oficial para continuar a produção em uma fábrica que ele e sua esposa tinham construído em Brünnlitz, na Morávia. Toda sua força de trabalho deveria se mudar para o novo local, mas muitos foram enviados para os campos de concentração de Gross-Rosen e Auschwitz.
5) Campo de Gross-Rosen
Por volta de 800 homens, entre eles 700 judeus, que trabalhavam para Oskar Schindler foram enviados para o campo de Gross-Rosen, mas foram libertados graças aos esforços do industrial, que negociou com os nazistas, e enviados para o campo em Brünnllitz.
6) Campo de Auschwitz
Outras 300 mulheres da lista de Schindler foram enviadas para Auschwitz após a evacuação na região da Cracóvia. O industrial também negociou a libertação delas, prometendo pagar diariamente aos nazistas pelo seu trabalho. Este é o único caso registrado em que um grupo tão grande de pessoas pode sair vivo do campo enquanto as câmaras de gás ainda estavam operando.
Em outro de seus resgates, Schindler e Emilie salvaram 107 homens enviados para campos de extermínio. Eles pararam o trem que os levava, sem água e comida por dias, e convenceram o comandante responsável pelo grupo de que necessitavam daquelas pessoas em sua fábrica. Schindler também enfrentou o comandante nazista e o impediu de incinerar os corpos encontrados congelados nos vagões do trem. O casal organizou um enterro com ritos religiosos judaicos em um terreno perto do cemitério católico, comprado especialmente para esse fim.
Pós-guerra
Nos últimos dias da guerra, pouco antes da invasão do Exército russo na Morávia, Schindler conseguiu se infiltrar na Alemanha, em território controlado pelos Aliados. O industrial estava sem dinheiro, pois havia gasto toda sua fortuna em propinas e compras de suprimentos no mercado negro. Organizações de assistência judaica e grupos de sobreviventes o apoiaram modestamente ao longo dos anos, ajudando a financiar sua vida e de sua esposa em Buenos Aires, na Argentina, para onde emigraram.
Quando Schindler visitou Israel pela primeira vez, em 1961, foi recebido por 220 sobreviventes entusiasmados. Depois disso continuou a viver parcialmente em Israel e na Alemanha. Separou-se de Emilie em 1957 e, embora não tivessem se divorciado, eles nunca mais se viram novamente.
Morreu em Hildesheim, na Alemanha, em outubro de 1974. Para homenageá-lo, alguns dos judeus que o industrial resgatou levaram os seus restos mortais a Israel, para serem enterrados no Cemitério Católico de Jerusalém. A inscrição em sua sepultura diz: “O inesquecível salvador de 1.200 judeus perseguidos”.
Depoimento de Moshe Beyski, um dos judeus salvos por Schindler
Jampa Web Jornal
Fonte:Exame/Julia Braun/Redação/Jorge Correia
Neste sábado (28), Oskar Schindler completaria 110 anos. O industrial morávio salvou cerca de 1.200 judeus durante o Holocausto, empregando-os em suas fábricas de munição e esmaltados sob condições muito melhores do que aquelas a que estavam submetidos nos campos de trabalho e extermínio nazistas.
Retratado no épico filme de Steven Spielberg, baseado na obra de Thomas Keneally, A Lista de Schindler, o industrial foi personagem de muitos outros livros e biografias. Em 1963, recebeu o prêmio de Justos entre as Nações do Yad Vashem, o Memorial do Holocausto em Israel. A honra é oferecida a todos os não judeus que salvaram vidas judias durante a Segunda Guerra Mundial.
Apesar de ser muito admirado em todo o mundo, Schindler era uma figura muito contraditória. Segundo relatos, no início de sua vida era visto como um grande oportunista, que só visava o lucro. Sua esposa, Emilie, contou em seu livro Memórias – À sombra de Schindler, como o industrial gastou todo o dinheiro com mulheres, apostas e bebidas. Ela afirmava que “nem em sonhos” voltaria a se casar com Oskar.
Além disso, era membro formal do Partido Nazista e foi espião do Abwehr, o serviço de informações dos nazistas.
Apesar de nunca ter se mostrado ideologicamente contrário ao regime nazista, Schindler se horrorizava com a crescente brutalidade da perseguição sem sentido contra a população judaica. Segundo as biografias escritas sobre o empresário, o sentimento provocou uma transformação em sua personalidade oportunista e gananciosa e, ao longo dos anos, ele se mostrou disposto não só a gastar todo seu dinheiro, mas também a colocar sua própria vida em risco na luta para ajudar aquelas pessoas.
Vida e empreendimentos
Schindler nasceu em 28 de abril de 1908 na Morávia, região que hoje faz parte da República Checa. Sua família católica e de classe média pertencia à comunidade de falantes da língua alemã da região e, como a maioria dali, seguia o Partido Alemão dos Sudetas, que apoiou o nazismo e lutou pelo desmembramento da Checoslováquia e sua anexação à Alemanha.
Casou-se com Emilie em março de 1928, em uma pousada nos arredores de Zwittau, sua cidade natal.
Quando os Sudetas se juntaram à Alemanha de Hitler, Schindler tornou-se membro formal do Partido Nazista e, em 1936, espião do Abwehr, o serviço de informações dos nazistas na Checoslováquia. Mais tarde, ele disse à polícia checa que fez isso porque precisava do dinheiro.
Pouco depois da eclosão da guerra, em setembro de 1939, Schindler se mudou para a Cracóvia ocupada, na Polônia, onde assumiu uma fábrica de cerâmica esmaltada que anteriormente pertencia a um judeu. Com a ajuda de um contador, começou a construir sua própria fortuna.
No final de 1942, o empreendimento em Zablocie, nos arredores de Cracóvia, expandiu-se para uma enorme fábrica de esmaltados e munições, empregando quase 800 homens e mulheres. Destes, 370 eram judeus do gueto de Cracóvia, estabelecido após a invasão alemã na cidade.
Schindler logo adotou um estilo de vida extravagante, saindo à noite, confraternizando com oficiais de alto escalão e namorando belas mulheres polonesas. Ele parecia não ser diferente de outros empresários alemães da região. O que o diferenciava era a forma como tratava seus funcionários, especialmente os judeus.
Segundo o Yad Vashem, a vantagem do industrial estava justamente no seu status de empresário. Isso não só o qualificava para obter contratos militares lucrativos, como também permitia que recrutasse judeus sob o controle dos nazistas para trabalhar em sua fábrica. Schindler não hesitava em falsificar os registros, listando crianças, donas de casa e advogados como mecânicos especializados e metalúrgicos.
A Gestapo, polícia secreta dos nazistas, chegou a prendê-lo diversas vezes, sob acusações de irregularidade e favorecimento de judeus.
Mapas do projeto humanitário de Schindler
Gueto de Cracóvia (Wikimedia Commons/Reprodução)
Foi um dos cinco guetos principais criados pela Alemanha Nazista durante sua ocupação da Polônia na Segunda Guerra Mundial. Grande parte dos judeus resgatados por Schindler viviam aí.
2) Campo de Plaszow
Campo de Plaszow (Wikimedia Commons/Reprodução)
3) Fábrica Oskar Schindler
Fábrica de Oskar Schindler (The Holocaust Resource Center/Reprodução)
Nos arredores de Cracóvia, Schindler comprou uma fábrica de metais, onde produzia utensílios de cozinha, cerâmica esmaltada e munições. Em 1942, empregava quase 800 homens e mulheres. Destes, boa parte eram judeus do gueto de Cracóvia e do campo de concentração de Plaszow.
4) Fábrica/Campo em Brünnlitz
Fábrica Schindler em Brünnlitz (Wikimedia Commons/Reprodução)
5) Campo de Gross-Rosen
Campo de Gross-Rosen (Wikimedia Commons/Reprodução)
Por volta de 800 homens, entre eles 700 judeus, que trabalhavam para Oskar Schindler foram enviados para o campo de Gross-Rosen, mas foram libertados graças aos esforços do industrial, que negociou com os nazistas, e enviados para o campo em Brünnllitz.
6) Campo de Auschwitz
Campo de Auschwitz (Wikimedia Commons/Reprodução)
Outras 300 mulheres da lista de Schindler foram enviadas para Auschwitz após a evacuação na região da Cracóvia. O industrial também negociou a libertação delas, prometendo pagar diariamente aos nazistas pelo seu trabalho. Este é o único caso registrado em que um grupo tão grande de pessoas pode sair vivo do campo enquanto as câmaras de gás ainda estavam operando.
Em outro de seus resgates, Schindler e Emilie salvaram 107 homens enviados para campos de extermínio. Eles pararam o trem que os levava, sem água e comida por dias, e convenceram o comandante responsável pelo grupo de que necessitavam daquelas pessoas em sua fábrica. Schindler também enfrentou o comandante nazista e o impediu de incinerar os corpos encontrados congelados nos vagões do trem. O casal organizou um enterro com ritos religiosos judaicos em um terreno perto do cemitério católico, comprado especialmente para esse fim.
Pós-guerra
Nos últimos dias da guerra, pouco antes da invasão do Exército russo na Morávia, Schindler conseguiu se infiltrar na Alemanha, em território controlado pelos Aliados. O industrial estava sem dinheiro, pois havia gasto toda sua fortuna em propinas e compras de suprimentos no mercado negro. Organizações de assistência judaica e grupos de sobreviventes o apoiaram modestamente ao longo dos anos, ajudando a financiar sua vida e de sua esposa em Buenos Aires, na Argentina, para onde emigraram.
Quando Schindler visitou Israel pela primeira vez, em 1961, foi recebido por 220 sobreviventes entusiasmados. Depois disso continuou a viver parcialmente em Israel e na Alemanha. Separou-se de Emilie em 1957 e, embora não tivessem se divorciado, eles nunca mais se viram novamente.
Morreu em Hildesheim, na Alemanha, em outubro de 1974. Para homenageá-lo, alguns dos judeus que o industrial resgatou levaram os seus restos mortais a Israel, para serem enterrados no Cemitério Católico de Jerusalém. A inscrição em sua sepultura diz: “O inesquecível salvador de 1.200 judeus perseguidos”.
Depoimento de Moshe Beyski, um dos judeus salvos por Schindler
Fonte:Exame/Julia Braun/Redação/Jorge Correia
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