Bairros fantasmas: 700 mil casas estão vazias no Reino Unido
Em Londres, são 22 mil imóveis desocupados; proprietários estrangeiros compram, mas não utilizam
Londres vive um estranho fenômeno. A capital britânica, que viveu o recente boom imobiliário, tornou-se paraíso para investidores estrangeiros.
Milhares de propriedades, das mais luxuosas, estão sendo compradas por super ricos estrangeiros, entre gregos, russos e cipriotas, que escolhem Londres para fugir da instabilidade econômica de seu países de origem. Entretanto, sem qualquer intenção de viver nas novas casas. O resultado é o aumento dos chamados bairros fantasmas.
"Londres é uma cidade atraente e há muitos investimentos de longo prazo na cidade, pois é um lugar seguro para investir”, explica o executivo chefe Christian Ulbrich, da agência imobiliária Jones Lang LaSalle. O executivo explica também que a turbulência de mercados emergentes como o brasileiro resultaram em investimentos em mercados desenvolvidos, como o europeu.
Um dos resultados desse grande investimento de estrangeiros foi a alta dos preços, que tornou o mercado imobiliário da capital britânica impossível para quem vive na cidade. Outro lado desse investimento é o fenômeno de ruas desertas e bairros fantasmas. “Muitas propriedades de alto luxo são vendidas para pessoas que não pretendem utilizá-las e nem alugá-las. É somente um paraíso seguro para aplicar o dinheiro”, explica o executivo imobiliário. Enquanto o preço de imóveis fora do centro caiu em torno de 10%, o valor aumentou 21% para imóveis no centro de Londres.
O fenômeno se tornou uma tendência e está matando o comércio local de ruas em Belgravia, Kensington e Chelsea. Mesmo ruas do chique bairro Mayfair, no centro, são desertas à noite por falta de residentes. Dados do imposto predial das prefeituras das cidades britânicas mostram que 22 mil casas estão vazias na capital e 700 mil em todo o Reino Unido. Com isso, o sentido de comunidade também se perde.
O recém-lançado complexo One Hyde Park, que ostenta apartamentos de U$ 1,7 bilhões, ao lado do luxuoso hotel Mandarin em Knightsbridge, provoca curiosidade nos locais. Com lojas da Rolex e McLaren no térreo do complexo, não há qualquer sinal de vida nos apartamentos do conjunto de flats. O Terra visitou o lugar e constatou que um segurança toma conta da entrada à espera de residentes, mas estes não aparecem. Os apartamentos foram comprados por estrangeiros que escondem suas identidades por trás de nomes de empresas, registradas em paraísos fiscais, como a ilha britânica 'Isle of Man' e Cayman.
Uma pesquisa realizada pela Vanity Fair com base em investigação de 2013 apontou que, entre os proprietários, estavam: um magnata russo; o homem mais rico da Ucrânia; um bilionário do cobre Kazakh e um magnata de telecomunicações da Nigéria. De acordo com o jornal The Sunday Times , apenas 17 dos 76 apartamentos vendidos são registrados como residências primárias, em que os proprietários pagam imposto predial anual, como uma segunda residência.
David Zambra, dono de uma papelaria, a H.R Stokes, em Belgravia, reclama que a mudança tem se tornado insustentável para o comércio. “Esta rua ao lado é inteiramente vazia. Você pode ver que os flats estão apagados à noite. Não há muitas pessoas andando pela rua e isso tem matado o comércio local”, explicou. A loja de Zambra está aberta na região há pelo menos 25 anos, no mesmo lugar. “Esse fenômeno começou há sete anos. Algumas lojas fecharam. Antigamente, havia aqui açougue, padaria, peixaria... Mas todos fecharam. Esses investidores de fora não contribuem nada para a economia local”.
Outro a fechar as portas recentemente foi o restaurante francês Racine, perto da famosa loja Harrods. O dono Henry Harris explicou que o lugar se tornou insustentável. "O aumento do aluguel se tornou um problema", disse ele, reclamando da recente alta dos preços para comerciantes. "Mas o principal motivo foi a diminuição da população local e a mudança da clientela. Desde que a Harrods foi comprada pela família real do Qatar, o tipo de clientes mudou", explicou. No lugar do restaurante, uma rede de cafés, menos formal, abriu as portas. Quando o Racine abriu, em 2002, a média do valor de uma casa em Knightsbridge era 745 mil libras (cerca de R$ 3,5 milhões), hoje o valor beira 3,5 milhões de libras (quase R$ 16,4 milhões).
Alan Gray, gerente de outro restaurante, The Ebury, aberto em 1951 em Belgravia, confessou ao Terra que só permanece aberto por conta da reputação. “Nós continuamos graças aos clientes que vem aqui há mais de 20 anos. Mas a mudança da área foi incrível. Quatro hotéis fecharam aqui ao lado recentemente, além de várias lojas. O preço dos aluguéis comerciais expulsou a maioria do comércio local”, explicou ele, acrescentando que “recentemente um mercado grande abriu e há rumores de que um Mc Donald’s ou KFC irá abrir em breve nessa rua. Só estes têm condição de pagar pelo valor tão alto atualmente”. O restaurante The Ebury está no fim da área Belgravia, mais próximo de Victoria, área mais popular.
O governo tem sido pressionado a encontrar soluções como a da Alemanha, que cobra uma taxa adicional no imposto de cada casa declaradamente vazia. O primeiro bairro a tomar providências foi o de Camden Town, ao norte de Londres, que aprovou uma taxa adicional de 50% no imposto predial de casas vazias por mais de dois anos. O resultado foi uma redução imediata de 40% no número de casas ‘abandonadas’.
Jampa Web Jornal
Terra
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