5 anos após Primavera Árabe, EI virou maior perigo
Foi o gesto desesperado de um comerciante ambulante tunisiano a iniciar, exatos cinco anos atrás, a revolta dos jovens, dando origem a uma série de manifestações por toda a Tunísia, que resultariam na "Primavera Árabe".
Era 17 de dezembro de 2010 quando Mohamed Bouazizi ateou fogo em si mesmo na cidade de Sidi Bouzid, na parte central da Tunísia, para protestar contra as condições econômicas do seu país e os abusos da polícia. Um ato que se tornou a faísca para as revoltas que levariam à queda do regime de Zine El Abidine Ben Ali e à sua fuga, inaugurando uma incerta fase transitória, com o temor de uma guinada integralista até a eleição do primeiro presidente do pós-ditadura e o pesadelo do terrorismo.Mas o sacrifício de Bouazizi não foi um ato isolado: se tornou um símbolo a imitar em muitos países da região. O perfume da Revolução de Jasmim invadiu o Egito, derrubou Hosni Mubarak e deu origem ao mito da Praça Tahrir. Os ecos da Primavera Árabe atingiram também a Líbia, com os primeiros motins populares reprimidos por Muammar Kadafi. Depois, veio a intervenção militar internacional e o trágico fim do coronel.
Porém a esperança de um renascimento democrático se quebrou. O país foi tomado por milícias e mergulhou no caos e na anarquia, uma situação que começa a se resolver apenas neste 17 de dezembro, com o histórico acordo de paz assinado em Roma. Mas os líbios ainda terão de lidar com o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), cada vez mais presente.
E não podemos nos esquecer da Síria, também ela chacoalhada pelos ventos das primeiras revoltas, porém com um regime forte o suficiente para não ceder. O país enfrenta uma guerra civil até hoje, com milhares de mortos e milhões de refugiados, muitos deles expulsos pelas perseguições do EI, mas também das forças de Bashar al Assad, de outros grupos rebeldes e até dos ataques da coalizão liderada pelos Estados Unidos.
Motins também chegaram ao Iêmen, já às voltas com células da Al Qaeda, e jogaram o país em um conflito que segue em curso.
Impactos menores da Primavera ainda foram registrados em Arábia Saudita, Omã, Sudão, Marrocos, Mauritânia e Kuwait. A comunidade internacional foi pega de surpresa pelas revoltas no Oriente Médio, que, depois de anos de impasse e imobilidade, vive sua maior época de mudanças desde o fim do colonialismo.
A instabilidade aumentou a tensão em Israel, que, depois de ter perdido um aliado histórico como Mubarak, olha com atenção a situação na Jordânia. Mas, cinco anos após a imolação de Bouazizi, o que realmente mudou? Os grandes ditadores do norte da África, considerados pilares inexpugnáveis de uma ordem aplicada com punho de ferro e aliada ao Ocidente, não ditam mais as leis.
Ben Ali vive no exílio, Mubarak enfrenta uma longa agonia física e jurídica, enquanto quem resiste é o argelino Abdelaziz Bouteflika, sobrevivente da onda revolucionária. Turbulências, revoluções e repressões que, entre 2011 e 2012, não indicavam ainda aquilo que se tornaria o maior perigo do Oriente Médio - e talvez do mundo - na atualidade: o Estado Islâmico.
Jampa Web Jornal
Agência Ansa
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