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O pecado de Lula


Ele preocupou-se com o desequilíbrio social. Não foi muito longe, mas para os graúdos foi demais.

Lula vai recuar? Não. – Não há como mudar o destino do ex-presidente, a eleição de 2018, após a reação dele à provocação promovida pelo maneiroso juiz Moro.

Não se emenda mesmo essa fatia conservadora da população brasileira, minoritária e radical, poderosa e intolerante, com os governos comprometidos com políticas sociais capazes de diminuir a distância, um enorme fosso entre os privilegiados moradores do “país de cima” e os desconhecidos cidadãos do “país de baixo”, na metáfora cantada em verso pelo poeta cearense Patativa do Assaré.

Lula paga o preço de ter diminuído, ainda que pouco, a distância social no Brasil.

Getúlio Vargas suicidou-se. João Goulart, deposto, morreu no exílio e Lula pode ir para a cadeia, como foi sinalizado com a “condução coercitiva” que atropelou a legalidade ao levar o ex-presidente a depor. Um show para a mídia propiciada pelo pernóstico e maneiroso juiz Sergio Moro. Moro é devoto do autoritarismo e hostil à democracia.

É a expressão clássica desse grupo que tem demonstrado com muita impaciência sua disposição de golpear. Desta vez, mesmo sem o apoio dos quartéis, sustentam ações marginais, como, por exemplo, o golpe parlamentar com o objetivo de frear a continuidade do quarto governo contínuo do Partido dos Trabalhadores.

Eles apenas toleraram as vitórias de Lula. “Cansei”, diz agora um desses paspalhões, cujo ódio à democracia os faz transformar o adversário em inimigo. Na condução forçada de Lula guarnecida por fuzis faltaram as algemas e, afinal, o pontapé sempre pronto a enfiar a vítima no camburão.

Isso comporia a cena comumente utilizada por truculentos policiais contra cidadãos comuns desprotegidos, considerados por certas autoridades cidadãos de segunda classe.

Sergio-Moro
Moro é devoto do autoritarismo e hostil à democracia (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil)

O recado dado a Lula foi o seguinte: “Desista da eleição”. Essa radicalização parte da incerteza da oposição partidária e dos movimentos sociais conservadores em resolver a questão, a destituição de Dilma e a prisão de Lula, pela Câmara dos Deputados e pelo Tribunal Superior Eleitoral.

A derrota do governo, pela via parlamentar ou pelo tribunal eleitoral, depende de dois terços dos componentes das duas casas. Um número difícil de ser obtido.

Fala sobre isso uma autoridade togada: “Sem uma nova articulação no Senado a pouco provável vitória na Câmara esbarraria no veto já sinalizado por Renan Calheiros”.

A decisão contra a presidenta Dilma Rousseff no Tribunal Superior Eleitoral soará como uma “vitória no tapetão”. Ruim, do ponto de vista institucional. Em algumas instituições corre a proposta de negociar a desistência do ex-presidente, provável vitorioso de 2018 se forem mantidas as regras legais. Mas ele não tem como recuar, após o enérgico discurso feito ao deixar a “prisão” de Congonhas, onde depôs por cerca de três horas. Uma afronta vilmente planejada.

Dificilmente Lula vai buscar blindagem ao abrigo de qualquer cargo no primeiro escalão da República, salvo se estiver disposto a cometer suicídio político.

Há uma alternativa: optar por ouvir uma voz de comando mais ou menos assim na linguagem policial: “Teje preso”. O risco dessa decisão é a de que o País ficará “ao Deus dará”.

Em 1954, ninguém sabia que, mesmo tardiamente, haveria uma poderosa reação da população na sequência da decisão extrema de Vargas. A direita foi acuada.

A devassa sobre Lula deve aumentar. E aumentou com o pedido de prisão preventiva feito pelo Ministério Público de São Paulo.

Jampa Web Jornal
Mauricio Dias

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